Autor: Hayslam Nicacio

 

Existem muitos mitos e verdades em torno do processo conhecido como Psicoterapia. O mais comum dos equívocos é pensar que quem procura a ajuda de um psicoterapeuta está com sérios problemas mentais, ou louco. Este erro é muito curioso porque, na prática, o louco (portadores de sofrimento mental com diagnóstico de alguma psicose – numa linguagem moderna) são os menos acessíveis à psicoterapia. O mais comum de se encontrar nos consultórios são pessoas com a mente preservada dessas alienações mais graves, mas com um sofrimento de ordem emocional, conflitos familiares, existenciais, distúrbios psicossomáticos ou com necessidade de se conhecerem mais, o que é raro, mas felizmente real. Outra questão controversa é exatamente a pergunta que leva o título deste texto: “Em que a terapia pode me ajudar?”. Quando alguém recebe a indicação de procurar um psicólogo, normalmente é a primeira dúvida que lhe surge à mente. Existem alguns desdobramentos desta interrogação do tipo: “O que ele vai me dizer que eu já não saiba?”, “Ele vai ficar lá parado só me ouvindo? Se for assim prefiro conversar com meu cachorrinho…”. Ou então: “Minha irmã foi em um psicólogo e detestou, ele não entendeu nada do que ela disse e deu conselhos que ela não concordou…”.

É importante esclarecer estas dúvidas tão frequentes. O primeiro ponto fundamental de todas elas é que as pessoas tendem a generalizar a experiência vivenciada com um profissional para todos os demais. Ninguém diz assim: “Fui a um médico porque estava passando mal e ele nem me olhou nos olhos, não entendeu o meu problema e ainda deu diagnóstico errado. Nunca mais vou em médico algum!!!”. Por mais estranho que possa parecer esta afirmativa, ela costuma ser aplicada à psicoterapia. Uma frustração experimentada com um terapeuta em particular é generalizada para todos os demais… Feita esta ressalva, podemos dizer que os benefícios de uma psicoterapia de qualidade são:

(1) Permitir à pessoa expor suas dificuldades num contexto de confiança, acolhimento e sigilo, o que, de início, já traz algum alívio como consequência da catarse vivenciada;

(2) Muitas vezes as dificuldades que a pessoa experimenta nas suas relações pessoais são, de certa forma, reproduzidas na relação com o psicólogo, o que possibilita a este identificar alguns padrões de interação e tratá-los. Com isto, produz-se uma conscientização do modo de se relacionar com os outros, que pode ser o ponto de partida de uma mudança para formas mais saudáveis de interação;

(3) Possibilidade de ver as questões sob novos pontos de vista. Normalmente, quando estamos com algum sofrimento, este nos ocupa a mente de tal forma que encontramos dificuldades de perceber caminhos alternativos ao que escolhemos, devido a essas preocupações tão intensas que a dor nos provoca;

(4) Promover o autoconhecimento, tanto dos aspectos positivos, saudáveis, características de personalidade que desejamos manter, quanto dos aspectos negativos, ou seja, nossos comportamentos, desejos, pensamentos, formas de se relacionar que nos são prejudiciais, que gostaríamos de superar. Conhecer-se é a melhor forma de saber por onde começar.

A terapia não funciona como um oráculo da Grécia Antiga para onde as pessoas iam em busca de respostas prontas dadas pelas pitonisas, orientadas pelo deus Apolo. Não. A proposta é respeitar a autonomia e a capacidade que cada ser humano tem de superar a si mesmo, pensar, refletir e construir o próprio caminho, como autor insubstituível da própria história.

Em que a terapia pode me ajudar?
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